As submissões devem seguir as normas de formatação da OBS*, disponíveis em http://obs.obercom.pt/index.php/obs/about/submissions#onlineSubmissions
Para quaisquer esclarecimentos, devem ser contactados os editores convidados deste número especial, Vania Baldi e Jorge Martins Rosa:
vbaldi@ua.pt; dedalus.jmmr@gmail.com
Os manuscritos estarão sujeitos a revisão por pares, e este número deverá ser publicado no último volume de 2018 da OBS*
Ainda que fazer manualmente uma operação tão simples quanto uma divisão envolva a aplicação de um algoritmo, nunca como nos tempos mais recentes a expressão foi tão usada.
A noção de algoritmo já não remete apenas para a transcrição passo a passo das operações de raciocínio lógico, mas cada vez mais para processos complexos de computação de grandes massas de dados, destinados a extrair todo o tipo de correlações, a maximizar a eficácia da comunicação, das tomadas de decisão, e a antecipar tendências futuras. A previsão do futuro é, de resto, um campo de batalha privilegiado em que os poderes contemporâneos apostam para ganhar posições de influência.
Mas será este futuro mera expectativa do provável ou, mais do que isso, algo produzido pelos próprios algoritmos? O futuro inventa-se, pode ser surpreendente, ou está já escrito nos meta-dados que os automatismos inteligentes descodificam?
Em concomitância com esta ascensão dos algoritmos, a outrora proclamada sociedade da informação e do conhecimento parece estar a revelar-se uma sociedade em que tudo é automaticamente registado e transfigurado pelo targeting, configurando uma fragmentação
generalizada do tecido social em clusters isolados e fanaticamente polarizados entre si. Estarão os dispositivos sociotécnicos a gerar uma cultura de guetos identitários e oposições radicais alérgicas a qualquer sensibilidade dialética?
O recente debate sobre a pós-verdade confirma a emergência duma “sociedade da desinformação” assente na confirmation bias, nas cybercascades e nas echo chambers. A desintermediação mostrou assim o seu avesso, a credulidade falaciosa. Nesse sentido, torna-se imperativo perceber a relação entre reações emotivas aos conteúdos digitais e o capital cultural dos internautas no que diz respeito aos temas morais, políticos e sociais que protagonizam as disputas em rede.
A contemporânea vaga de populismos parece ter o seu embrião nesta dimensão cibercultural até há pouco ignorada, que agora ameaça pôr em causa o ideal socialmente emancipatório que nos foi prometido com o acesso ao mundo digital. Como alertou Christian Fuchs (2017), a
proliferação dos nacionalismos e autoritarismos evoca um passado não tão distante, parecendo confirmar o receio de que a história se repita, ao mesmo tempo que experienciamos fenómenos que prometem uma nova era, resultantes de tecnologias como os social media, os big data, a Internet das Coisas, a cloud computing, entre outros. O velho e o novo parecem interligar-se no presente de formas particularmente complexas.
A transformação tecnológica não deve, contudo, ser encarada como o único fator determinante. Os seus possíveis efeitos na emergência das polarizações culturais e dos populismos são igualmente filtrados por narrativas e visões do mundo ideológicas que também contribuem para a definição da Internet de hoje como terreno de conquista política e
económica. É por isso necessário apreender e discutir o modo como esta contribui (ou não) para esses novos populismos e como é definida e usada quer pelos seus líderes quer por outros atores ou organizações.
Trata-se duma problemática multidimensional, que abrange questões jornalísticas, epistémicas, estéticas, éticas, políticas, educacionais, sociotécnicas e ciberculturais. Com este número especial da revista OBS* pretendem-se identificar e compreender alguns dos âmbitos que mais protagonizam essas dimensões da digitalização da realidade.