Eduardo Prado Coelho

(1944 – 2007)

Para se fazer justiça ao Professor Doutor Eduardo Prado Coelho não têm serventia as fórmulas de circunstância.

Professor Associado Jubilado da Universidade Nova de Lisboa, tinha iniciado em 1970 a sua carreira académica como Assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, pela qual era Licenciado em Filologia Românica e onde obteve o grau de Doutor em 1983. Detentor de um curriculum, foi, nomeadamente, Director-Geral de Acção Cultural no Ministério da Cultura, em 1975-76, professor no Departamento de Estudos Ibéricos da Universidade de Sorbonne Paris III (1988-89), Conselheiro Cultural na Embaixada de Portugal em Paris, de 1989 a 1998, que acumulou com as funções de Director do Instituto Camões na capital francesa, a partir de 1997, tendo entretanto assumido cargos tais como o de Comissário para a Literatura e o Teatro da Europália Portuguesa (1990) e colaborador na área de colóquios da Lisboa Capital Europeia da Cultura 94, entre outros, em Portugal e no estrangeiro. De regresso ao nosso país em 1998, retomou a sua carreira docente no Departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, tendo, entretanto, comissariado a participação portuguesa no Salon du Livre/2000, e integrado o Conselho Directivo do Centro Cultural de Belém, o Conselho Superior do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia (ICAM), o Conselho de Opinião da Radiodifusão Portuguesa e o Conselho de Opinião da Radiotelevisão Portuguesa. Foi colunista do Público desde a fundação do jornal e até à data do seu falecimento.

Organizador de uma antologia de autores do estruturalismo que impôs um estilo, marcou uma época e uma ou várias gerações, e o alçou de jovem revelação ao estatuto de figura de referência que manteria sempre. Da sua vasta obra ensaística destacam-se O Reino Flutuante (1972), A Letra Litoral (1979), Os Universos da Crítica (1983), que reproduz a sua tese de doutoramento intitulada A Noção de Paradigma nos Estudos Literários, e ainda A Mecânica dos Fluidos (1984), A Noite do Mundo (1988), O Cálculo das Sombras (1997), A Razão do Azul (2004), Nacional e Transmissível (2006), Dia Por Ama, em co-autoria com Ana Calhau, Diálogos sobre a Fé, escrito com D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa, assim como os dois volumes do diário Tudo o que não Escrevi (1992 e 1994), que em 1996 mereceram o Grande Prémio da Literatura Autobiográfica da Associação Portuguesa de Escritores. De resto, os prémios que recebeu, do Grande Prémio de Crónica João Carreira Bom ao Prémio Arco-Íris, da Associação ILGA-Portugal, ambos em 2004, são ilustrativos da diversidade da sua intervenção crítica e cívica. Colaborador de longa data da Revista de Comunicação e Linguagens, foi co-organizador dos seus números 28 (“Tendências da Cultura Contemporânea”, 2000) e 34-35 (“Espaços”, 2005).

Homem de Cultura, abriu à cultura portuguesa as portas da divulgação internacional e foi entre nós o mais informado divulgador, por mais de três décadas, de autores, de obras, de tendências. Crítico, inumeráveis foram as vezes em que a crítica, para merecer a dignidade do nome, tomou de empréstimo o dele. Professor, resgatava o ensino da incapacidade de inspirar o que também nele – sim – se acolhe. Intelectual, demonstrou que não são mutuamente exclusivas a imensidade das minorias cultas e a popularidade entre os grandes públicos. Nisso, substitua-o quem puder.

José Augusto Bragança de Miranda
António Fernando Cascais
José Augusto Mourão

(RCL nº 38, “Mediação dos Saberes”, Dezembro de 2007, pp. 15-16)