Emídio Rosa de Oliveira​

(1942 – 1993)

Aquando da morte do professor Emídio Rosa de Oliveira, o colega e amigo, e também professor no mesmo departamento da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da NOVA, Adriano Duarte Rodrigues, escreveu dois breves parágrafos “In Memoriam” de Emídio Rosa de Oliveira, com os quais iniciamos este texto:

“É sobretudo na hora do infortúnio e, em particular na hora em nos confrontamos com situações limite, que nos encontram sozinhos e desamparados, que se revela a grandeza da nossa humanidade. Foi esta grandeza que discretamente me foi dado testemunhar, num almoço em que me revelou, com uma serenidade impressionante, a fatalidade da doença que, poucos meses depois, o iria roubar ao nosso convívio.

“O Emídio vivia intensamente, sem se dobrar aos compromissos das convenções, comprometido apenas com o testemunho das suas opções. Era este testemunho que tanto fascinava os seus alunos e que tornava sempre a sua presença uma presença uma passagem discreta e tolerante. O Emídio era fascinado pelas diferenças que fazem de cada um de nós aquilo que nos distingue e nos torna seres singulares.”

Anos mais tarde, uma ex-aluna de Emídio Rosa de Oliveira, Inês Pedrosa, que já havia escrito o texto “Em memória de Emídio”, na altura da morte, no JL-Jornal de Letras, Artes e Ideias, publicado em Janeiro de 1994, voltava a recordar o seu antigo professor, agora num texto intitulado “Professores” (Sol, 17 de Dezembro de 2013), com estas palavras:

“Escoada mais de metade da vida, nos derradeiros dias de um ano particularmente duro, entramos na galáxia dos balanços; trata-se de uma galáxia silenciosa e serena, que sempre nos distrai dos pequenos e médios crápulas que tentam roer-nos o trabalho e a alma.

“A telenovela da avaliação dos professores, com os seus avanços e recuos, e aquela ridícula prova escrita de resposta múltipla que pouco mais afere do que a velocidade das conexões neuronais dos profissionais do ensino, fez-me considerar a subjectividade radical implícita na definição do ‘bom professor’. A aprendizagem é uma relação; a capacidade de transmitir conteúdos não é universal, porque cada receptor é um caso.

“O meu professor de filme, o mais parecido com o protagonista do famoso O Clube dos Poetas Mortos de Peter Weir, foi Emídio Rosa de Oliveira, que ensinava Semiótica na Universidade Nova de Lisboa.

“Era uma figura que vivia o ensino com paixão, relacionando todas as coisas do mundo de um modo fulgurante. Mas havia alguns alunos aos quais aquele vendaval assustava e intimidava: “Afinal, qual é a matéria?” – perguntavam, no fim das aulas.

“Não devia ser possível fazer-se um curso universitário no estreito confinamento dos carris da matéria; mas era essa a realidade da década de 80, quando a democratização do ensino explodiu, depois de quase meio-século de boicote ditatorial à mobilidade social.”

Estes breves traços dão-nos desde logo uma primeira ideia da pessoa e do professor, do homem vibrante e do investigador apaixonado pelos seus temas – a fotografia, a pintura, a publicidade, e pelas suas cadeiras e alunos no Departamento de Comunicação Social/Ciências da Comunicação da FCSH, designadamente as disciplinas de Semiologia e Semiótica das Artes Visuais, ao longo dos anos 80 e início dos anos 90.

Emídio Rosa de Oliveira foi também investigador do CECL – Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens e membro do Conselho Consultivo nacional da RCL – Revista de Comunicação e Linguagens.

Entre outras actividades, entre 1978 e 1993 colaborou também regularmente com a revista Colóquio Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, dirigida por José Augusto França. Aí escreveu nomeadamente sobre arte, pintura e cinema, e, entre outros, sobre artistas como Helena Almeida, Rui Sanches, Manual Amado, Gina Paine, David Hockney, Picasso, ou sobre O Processo do Rei, de João Mário Grilo. E publicava também em diversos jornais, designadamente no Jornal de Artes e Letras.