Nelson Traquina

(1947 – 2011)

NOVA FCSH e o ICNOVA (Instituto de Comunicação da NOVA) cumprem o doloroso dever de anunciar à comunidade o falecimento do Professor Doutor Nelson Traquina, ocorrido no dia 27 de Setembro, em Massachusetts, nos Estados Unidos, onde residia há alguns anos.

Em particular à família, aos seus amigos mais próximos, colegas investigadores e antigos alunos, transmitimos os nossos sinceros pêsames e associamo-nos ao sentimento coletivo de perda e saudade.

Nelson Traquina era Professor Catedrático do Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH, onde lecionou desde o início dos anos 80 e obteve a cátedra em 1997. Foi correspondente em Portugal da agência noticiosa United Press International (UPI), tendo chegado ao país no rescaldo da revolução de abril, depois de um percurso académico formado nos Estados Unidos (licenciatura em Política Internacional no Assumption College e mestrado em Política Internacional na Universidade de Denver) e em França (diploma em Comunicação Social e Política na Universidade de Paris I e doutoramento em Sociologia na Universidade de Paris V).

Nelson Traquina foi um dos investigadores mais importantes e profícuos na área dos estudos jornalísticos em Portugal – a ele lhe devemos os elementos para uma teoria da notícia que ajudaram a compreender porque é que “as notícias são como são”, subtítulo de um dos seus livros (Teorias do Jornalismo, Volume I, 2004). Os estudos sobre o jornalismo em Portugal e no Brasil são imensamente devedores do contributo de Nelson Traquina.

Foi o primeiro académico português a sistematizar um pensamento sobre a estrutura política das notícias como bens simbólicos e a conceber o jornalismo simultaneamente como uma prática profissional e um campo de estudos e reflexão. Os seus numerosos alunos, portugueses e brasileiros, serão sempre gratos pela iniciação em leituras de autores seminais na área das ciências da comunicação, na sua maioria desconhecidos na altura em que Nelson Traquina começou a organizar coletâneas desses textos e a discuti-los nos seminários de Teoria da Notícia no, então designado, Mestrado em Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa.

A antologia Jornalismo: Questões, Teorias e Estórias (1993) tornou-se rapidamente um clássico, apresentando 20 autores fundamentais, incluindo Philip Schlesinger, Stuart Hall, David Manning White, Gaye Tuchman, David Moloch e Marilyn Lester, Michael Shudson, Daniel Hallin e outros. Vários destes académicos vieram depois à NOVA FCSH participar em seminários e conferências organizados pelo professor Nelson Traquina. Destacamos em particular as várias edições do seminário Media, Jornalismo e Democracia, organizado pelo CIMJ, centro de investigação pioneiro na área dos estudos dos media e do jornalismo, fundado por Nelson Traquina em 1997 e que hoje se transformou no ICNOVA, após fusão com o CECL.

A direção e os membros do ICNOVA associam-se a estas sentidas palavras de uma tão justa homenagem, a um professor dedicado e estimado por todos, um incansável produtor e divulgador de ciência e conhecimento, um investigador pioneiro e um homem generoso e marcante, a quem o Departamento de Ciências da Comunicação da NOVA FCSH e centenas de pessoas muito devem um contributo decisivo para a sua formação académica e humana.

Para os que não o conheceram tão de perto, deixamos aqui o testemunho de dois colegas – Rogério Santos e Isabel Ferin – escritos na altura em que realizámos uma homenagem ao Professor Nelson Traquina, da qual saiu justamente o livro Pesquisa em Media e Jornalismo (organizado por Isabel Ferin Cunha, Ana Cabrera, Jorge Pedro Sousa), editado em 2012 e disponível em acesso livre através do link http://www.labcom-ifp.ubi.pt/livro/90

Ver “Nelson Traquina, um percurso dedicado aos media e ao jornalismo” de Rogério Santos.

Um testemunho de uma ex-aluna – Eunice Lourenço, atual Chefe de redação da Rádio Renascença:
Adeus ‘Proféssor’, Renascença online, 28 set, 2019. https://rr.sapo.pt/2019/09/28/eunice-lourenco/adeus-professor/artigo/166297/

“Mas ele transportou também o mesmo espírito de profecia para aquela que é o opera magna da sua existência: a impressionante ponte (apetece escrever a “impossível ponte”) que ele, quase marginalmente, desenha entre o campo da fé e o da razão, entre a liturgia e a poética, entre a regra e o desejo. Por alguma razão, ele nunca foi um criador confortável, nem para o campo católico, nem para os parâmetros da cultura dominante. Os ouvidos crentes só a custo se abriam, porque ele operava com uma gramática inusual e exigente, buscava metáforas vivas, que é como quem diz, novas metáforas. Do mesmo modo, ele nunca obteve a visibilidade que certamente merece da parte da cultura.

“A sua poesia é, por exemplo, litúrgica, coisa que, em Portugal, é imediatamente catalogada de género menor. E alguns dos seus textos mais fundamentais são homilias: ora, as últimas homilias que a cultura portuguesa ouviu foram os do Padre António Vieira! Talvez um dia se reconhece a originalidade e o marco deste homem e se possa então valorizar o que ele hoje nos deixa em herança. Para já sentimos o grande vazio que a sua morte representa, que, como aponta o título do seu primeiro livro de poemas, somos desafiados a viver como um “Vazio Verde”.”

Este belo apontamento fala por si, e pouco mais podemos dizer para além das palavras de Tolentino Mendonça. Acrescentaremos apenas alguma notas curriculares.

José Augusto Mourão foi Professor Associado com Agregação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi também investigador do CECL – Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens a ainda membro da direção da RCL – Revista de Comunicação e Linguagens. Na universidade regeu, designadamente, as cadeiras de Semiótica, E-textualidades, e Hiperficção e Cultura no Departamento de Ciências da Comunicação, tendo sido professor nos três ciclos de estudos. Foi ainda membro do Comité executivo da Associação Internacional de Estudos Semióticos (desde 1999).

Mas o professor José Augusto Mourão tinha também essa outra dimensão de enorme relevância enquadrada na sua atividade de Dominicano. Nessa qualidade, foi Presidente do Instituto S. Tomás de Aquino, Membro da Comissão Permanente para a Promoção dos Estudos na Ordem dos Pregadores (desde 2007) e membro do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (2010).

No cruzamento entre ambas as atividades o professor José Augusto Mourão escreveu poesia, fez tradução e publicou diversos livros, sobretudo no âmbito da sua atividade académica.

página dedicada a José Augusto Mourão: http://www.triplov.com/semas/