10 a 14 de Outubro de 2022

Prazo para envio de propostas: 31.1.2022 28 de fevereiro de 2022

Enviar propostas para: https://easychair.org/conferences/?conf=pai2022

Toda a informação em https://lisbonpai.netlify.app/?fbclid=IwAR1Tm4iBoXfkSEzUOfc_qcFWrX19UswLyOF_qkn1B27jDtvI7sxyS-jk75Q

Aceitamos propostas para:

– comunicações sobre teorias ou estudos de caso
– painéis ou mesas-redondas
– performances ou outras apresentações artísticas
– formatos mistos provenientes da prática como investigação, como conferências-performance
– workshops
– encontros de jovens investigadores
– pósteres, de preferência em formato de vídeo

Todas as propostas devem ter título + resumo (máximo 250 palavras) + 6 palavras-chave. As propostas devem ser submetidas até 31 de Janeiro.

Caso pretenda participar por videoconferência, deverá justificar a escolha na proposta. Incentivamos vivamente a presença física, embora a ausência faça parte do nosso tema.

Todas as propostas serão submetidas à apreciação dos membros da Comissão Científica, através de um processo de dupla avaliação cega por pares.

As apresentações serão em inglês. Excepções (por exemplo, português) serão consideradas caso a caso e poderão ser aprovadas, principalmente se a apresentação for acompanhada por um resumo ou um PowerPoint em inglês.

Porquê cinco dias? Porque queremos evitar a correria usual das conferências académicas. O formato vai depender das propostas que recebermos, mas o que estamos a planear é:

Segunda e terça-feira para workshops, performances e conferências de keynotes, possivelmente como residência fora de Lisboa.

Terça à noite, exibição de um filme sobre Presença, Ausência, Invisibilidade, seguido de debate

Os participantes podem preferir vir apenas nos restantes 3 dias, quarta, quinta e sexta-feira, em Lisboa, em que haverá as conferências dos keynote speakers, comunicações e performances.

Haverá também momentos para microfone aberto, salas de chat e outros jogos discursivos.

As melhores apresentações serão seleccionadas para publicação após o Encontro.

Early bird:

5 dias 300 €. (alguns workshops podem pedir pagamento próprio)

3 dias 200 €

Estudantes de mestrado e doutoramento: 5 dias 150€  3 dias 100 €

Quem tenha grande dificuldade em pagar, poderá pedir redução dos preços

PORQUE CRIAMOS ESTE ENCONTRO?

A atual pandemia covid19 tem muitos ancestrais, desde a peste negra na época medieval (entendida por Artaud como paradigma da subversão teatral) até ao VIH/SIDA, Ébola, gripe das aves ou SARS-1. Contudo, desta vez o mundo parou à escala global e nada poderá voltar a ser igual. O distanciamento social, como forma de viver os paradoxos entre visível/invisível e presença/ausência, está hoje na ordem do dia. Podemos caminhar para sociabilidades distantes, apáticas, receosas, agressivas, vigilantes; ou podemos avançar para uma reformulação de laços e para uma profunda necessidade de abraçar o mundo.

As respostas, as opiniões, os dogmas multiplicam-se, mas apenas um pensamento sem pressa poderá de facto acolher o novo e uma possível refundação da vida. O nosso objectivo é contribuir para essa discussão que está por vir. As artes, principalmente quando ligadas à existência e à sua reinvenção, sempre foram fundamentais para criar e criar e iluminar os nossos caminhos.

Acreditamos profundamente que podemos ajudar. Porque esta crise não veio do mundo das finanças, mas do corpo, e os performers trabalham com o corpo. É uma doença respiratória; e a respiração está sempre na origem da nossa actividade física e vocal e do nosso treino somático. Porque sabemos o que são o toque, e a distância e inibição, bem como os métodos para as superar. Porque vivemos no confronto estrutural com o outro, e na aceitação da alteridade. Porque sempre valorizámos a vulnerabilidade e certos estados de excepção. Porque aprendemos a dialogar com os nossos fantasmas e com os Godots ausentes. Porque temos as ferramentas da improvisação. Porque lidamos com movimento e pausa. Com o macro e o micro.

Além disso, as artes performativas têm vindo a desenvolver modos de relacionamentos não presenciais, essenciais neste momento de reterritorialização na esfera digital.

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

As questões da presença são centrais para a teoria das artes cénicas e para a formação dos performers. Desde a década de 1960, a performance art tenta criar alternativas cénicas ao pensamento representativo (realista ou simbólico) e ao dualismo (realidade vs. representação), privilegiando a presença e a interacção. O que exige uma redefinição da cena, mas também da teoria, da arte e da cultura.

Fischer-Lichte considera três graus de presença: simples (o corpo como materialidade); energética (o corpo intensificado pelo treino); e radical (intensificado pela presença colectiva). A presença não é uma capacidade inata: requer (no corpo, não apenas na mente) escuta, atenção, generosidade, porosidade, despojamento, multiplicação dramática e ressonante. Frequentemente, a presença é associada à energia e à respiração (prana ou koshi). Como podemos expandir essa energia no espaço, trabalhar o campo magnético, transformar o peso do corpo em energia?

Porém, cada presença cria uma distância. Derrida defendia que a presença tem sempre de começar por se representar, de modo a estar presente e presente para si. “A distância está no próprio centro da presença” – uma presença deslocada e instável criada na relação com a alteridade. O performer é confrontado com a co-presença frequentemente invasiva de outros intérpretes, do encenador/director e do público. Cresce com eles, entre eles.

Além disso, podemos colocar a ausência e o nada (em vez da presença) no centro do pensamento, concebendo-a como a primeira instância, tanto na discussão dos recursos mediáticos nas artes, como na problematização (Foucault, Lacan, Žižek) das questões sociais: o que não é visto nem apresentado será um ponto de entrada para as tensões e a precariedade. A hauntologia (Derrida) e os espectros (já presentes na teoria de Deleuze), como significantes da alteridade absoluta, interrompem as noções confortáveis de identidade e de história.

No âmbito da performance digital, que explodiu devido às novas formas de socialização após a Covid, os conceitos de presença, ausência e visibilidade fundamentam os debates entre virtual e real, incorporação e desincorporação, opacidade e invisibilidade, “ao vivo” e mediação. A discussão sobre ausência é pertinente, do ponto de vista intermedial, como uma consequência das ecologias liveness, em que a reprodução possibilita a categoria de “ao vivo” e onde a remediação se relaciona com as hauntologias derridianas como forma de activar passados.

Além disso, a intermedialidade, enquanto arena intersticial entre simultaneidades de presência/ausência, torna visíveis as ambiguidades nas narrativas de poder e exclusão e, ao mesmo tempo, pode activar não apenas o desaparecimento, como o que permanece. Do mesmo modo que o passado permanece no presente, também a efemeridade está contida nas identidades (práticas sociais performativas marginais e “invisíveis” que se tornam visíveis em certas comunidades), pelo que a performance persiste e a ausência se torna presente. A ausência precisa de ser nomeada – ainda que provisoriamente – para dar conta de um conflito entre singularidades.

A presença também depende da visibilidade e do poder, tal como as teorias e as obras de arte têm vindo a assinalar. Contudo, ao considerarmos a existência de uma ideologia da visibilidade que faz equivaler um “aumento da visibilidade” a um “aumento do poder”, podemos acabar por fetichisar a diferença, sem ter em conta as diferenças reais: a “visibilidade” da pele negra ou de género pode não ser um barómetro preciso para identificar uma comunidade com interesses políticos, económicos, sexuais e artísticos afins. Os performers que buscam inscrever esta componente transformadora na sua obra utilizam precisamente este “poder do invisível”.