Revista Interact nº 41 – Chamada para contribuições
Data-limite: 7 de Dezembro de 2025
Organização: Rui Luís (ICNOVA) e Tiago Ramos (ICNOVA)
Horror Digital: Reconfigurações do Humano e da Realidade
Aproxima-se a efeméride que assinala os 25 anos do primeiro número da Revista Interact – Revista Online de Arte, Cultura e Tecnologia. Durante o seu quarto de século de actividade, a digitalização mudou profundamente os campos de investigação desta publicação. Na realidade, a influência da digitalização ultrapassa, em larga medida, as consequências que teve na produção, distribuição e recepção da arte, da cultura e da tecnologia. O desenvolvimento do digital alterou de tal modo a vivência e a relação do ser humano com o mundo que os futuros passíveis de serem imaginados são, por via de regra, definidos pela evolução destes media. Na actualidade, boa parte da actividade humana é mediada por dispositivos digitais que, para além de agirem sobre a afectividade dos seus utilizadores, capturam e processam os seus movimentos, transformando-os em informação transmitida e reconhecida por sistemas inteligentes capazes de armazenar as suas acções passadas, monitorizar as do presente e antecipar as do futuro. Quer isto dizer que os media digitais operam sobre o ser humano e interpenetram-se na realidade, que tem como uma das suas infra-estruturas o código computacional.
A transfiguração da relação humano-tecnológica, espoletada pela difusão do digital, deu origem, nas últimas décadas, a discursos exultantes e apreensivos. É natural que assim seja, porquanto a integração de novos meios e dispositivos é acompanhada de uma discussão pública que avalia as suas potencialidades transformativas. Os benefícios perspectivados são colocados em contraponto aos perigos que se adivinham. Porém, tanto as manifestações de entusiasmo quanto as declarações de alarme têm, com frequência, como denominador comum o espanto, verificado, amiúde, na utilização de figuras retóricas que descrevem as mudanças como mágicas e horríficas. Nessa conformidade, constata-se que a ocupação do digital na paisagem mediática motivou a realização de obras artísticas que dão expressão à estranheza sentida face a estas tecnologias.
Atendendo este quadro tecnológico, cultural e artístico, o próximo número da revista tem como tema o Horror Digital: Reconfigurações do Humano e da Realidade. O desígnio desta edição é reunir contributos, de natureza ensaística e artística, que cuidem de questões relativas à transmutação da interface humano-tecnológica desencadeada pelo digital e ao modo como essa mudança provoca espanto e horror. Tendo como base esta temática, o número da revista abre-se a linhas de investigação que têm como disciplina o cinema, a televisão, a literatura e a arte virtual, mas também a derivações cuja área do saber se aproxima mais das ciências da comunicação, no caso das propostas que optem por atentar em fenómenos como as comunidades de horror online, o creepypasta, bem como outros formatos interactivos e gerados por usuários.
Deste modo, este número auscultará de que maneira o horror tem mobilizado, ao longo das últimas décadas, as ansiedades sentidas pelo espaço social face à propagação do digital, representando esses media, por exemplo, como áditos para um além fantasmático ou como aparatos indispensáveis às sociedades de vigilância. O objectivo é que a colecção de trabalhos reunidos aja como um compósito de hiperligações que redireccionam o leitor a reflexões sobre a arte, a tecnologia e o ser humano hoje.
Convocamos assim à participação nas diferentes secções da revista — Ensaio, Interfaces, Laboratório ou Entrevista — através da submissão de propostas que podem assumir o formato de texto, imagem, som ou vídeo (até ao limite de 10 minutos) ou outros dispositivos imagéticos e discursivos que se adequem ao modelo desta revista nativamente online. Incentiva-se o uso das capacidades de conectividade da própria rede através de hiperligações ou outras formas de interactividade.
A submissão de cada proposta deve incluir: título, resumo entre 150 e 450 palavras, nota biográfica e indicação da secção em que se enquadra. Para a secção “Laboratório” deverá ser enviado igualmente um excerto do trabalho, ou outros materiais que documentem a proposta.
* As submissões devem ser enviadas até 7 de Dezembro de 2025 para o e-mail dos editores do número (interact.horrordigital@gmail.com). E, se aceites para publicação, deverá ser entregue na sua versão definitiva até 25 de Janeiro de 2026.
* Cabe aos editores a decisão relativamente à publicação ou rejeição das propostas submetidas, tendo em consideração a articulação da dimensão experimental da revista com o tema proposto.
Secções da revista
Ensaio: O ensaio é uma secção-chave do projecto da Interact, que visa contribuir para um fortalecimento da presença do pensamento (em particular do pensamento português) nas redes de informação. Os textos para esta secção devem ter entre 10000 a 12500 caracteres, com uma utilização reduzida ou moderada de notas de rodapé e itálicos. Desaconselham-se também: bolds, cabeçalhos e diferenciamento de fontes por tamanhos de letra.
Interfaces: É objectivo desta secção afrontar duas lacunas importantes da actividade contemporânea da crítica no espaço da cultura portuguesa: a presença muito insuficiente da crítica cultural especializada na Internet, aí se incluindo o comentário e a recensão, e a falta de atenção da crítica a temas e objectos provenientes da cibercultura. Têm também aqui lugar artigos de carácter mais curto e mais experimental. Os textos para esta secção devem, também, ter entre 10000 a 12500 caracteres, privilegiando-se o uso de elementos multimédia e ligações, e desaconselhando-se o recurso a notas de rodapé, bolds, cabeçalhos, diferenciamento de fontes por tamanhos de letra e itálicos.
Laboratório: Esta secção, concebida como mostra de trabalhos artísticos, é inteiramente livre no que respeita aos meios de expressão a utilizar (escrita, grafismo, vídeo, imagem digital, som, …), aos temas e aos géneros, incentivando-se a exploração das características próprias das tecnologias digitais. As propostas aqui apresentadas são da inteira responsabilidade dos respectivos autores, embora a sua realização e implementação online possa resultar do trabalho conjunto com a equipa da Interact.
Entrevista: A presença da cultura na Internet ao longo dos últimos anos tem mostrado que a entrevista é um dos géneros mais bem-sucedidos na divulgação e no debate de ideias e na expressão do estilo próprio que fazem autorias. Noutros meios, a entrevista é frequentemente uma paródia de si própria pela escrita, uma exibição menor de uma oralidade de improviso (como na rádio ou na televisão) ou um género adulterado pelo rewriting jornalístico. A natureza dos instrumentos de comunicação próprios do online oferece a possibilidade de praticar a entrevista sob formas diversas e extremamente flexíveis, mesmo à distância, permitindo contribuir para a divulgação, junto de um público mais alargado, de autores de qualidade nas áreas contemporâneas do pensamento, da cultura e da arte.
Equipa editorial nº41
Rui Luís é mestre em Ciências da Comunicação (Cinema e Televisão, Nova – FCSH), licenciado em Cinema (ESTC) e formado em Fotografia (IPF). Realizou o documentário Que Dia É Hoje? (2019) e leccionou Fotografia no IPF (2003–2017). Colaborou em cinema como assistente de realização (Crónica Parisiense, 2011; Paixão, 2010), produção (Mistérios de Lisboa, 2010) e imagem (Fado Tonight, 2008). Actualmente é doutorando em Ciências da Comunicação na FCSH – UNL.
Tiago Ramos é investigador do ICNOVA e doutorando em Ciências da Comunicação, com especialização em Cinema e Televisão, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa. Neste momento, desenvolve uma investigação, financiada pela FCT, sobre cinema auto-reflexivo que atenta no modo como dispositivos cinematográficos são representados no cinema contemporâneo sob o signo do horror.

