A presença de conteúdos e serviços de bem-estar tem-se multiplicado no ecossistema das aplicações digitais. Desde os chamados “influencers” – que dinamizam contas de Instagram dedicadas a estilos de vida saudáveis, fitness, alimentação ou bem-estar mental, por exemplo – até à presença de um vasto portfólio de aplicações para download nas lojas de apps.

Perante este cenário nos espaços digitais, o bem-estar assume-se, definitivamente, como tendência. Mas será a gestão deste bem-estar amplificada ou moldada pela crescente oferta e adoção de aplicações móveis? Esta é a pergunta de base do projeto WellApp, financiado pelo ICNOVA (ICNOVA/UIDB/004/2022/ WellApp), e que tem como responsáveis as investigadoras Rita Sepúlveda e Ana Marta Flores (ICNOVA / iNOVA Media Lab).

WellApp – Wellness amplified or appified? Wellness management trending in everyday life digital platforms explora e desafia a tendência sociocultural dos significados de bem-estar, autocuidado e equilíbrio na vida contemporânea que emergem em espaços digitais mediados por aplicações. O projeto baseia-se em estudos de plataformas e recorre a uma metodologia mista para analisar dinâmicas e práticas, tanto na rede social Instagram, como na oferta das lojas de aplicações móveis.

Bem-estar: uma importância crescente

“É inevitável a importância que o bem-estar tem assumido na vida das pessoas”, começa por destacar Rita Sepúlveda, enquanto adianta que o tema vai mais além do que a combinação entre saúde física e saúde mental, integrando questões como “relações laborais e sociais, o lazer, a atividade física, a alimentação e o descanso”. Complexo e de importância evidente, o bem-estar tem “visível crescimento nas práticas quotidianas e nos estudos de tendências”, afirma.

A promoção da saúde e do bem-estar é, a propósito, uma das prioridades das Nações Unidas, reforçadas pelo Objetivo 3 de Desenvolvimento Sustentável: Saúde de Qualidade. Resta a dúvida se a multiplicação da oferta de serviços relacionados com bem-estar nas aplicações digitais contribui – ou não – para esse objetivo.

“O bem-estar e as apps podem parecer opostos, tendo em conta as investigações que indicam que algumas plataformas digitais podem ser prejudiciais para o bem-estar”, lembra Ana Marta Flores. A investigadora realça, contudo, que foi este “aparente paradoxo” que gerou o interesse por perceber melhor “como é que o bem-estar é retratado no Instagram” e por “mapear a oferta das lojas de aplicações móveis digitais em termos de bem-estar”, que são os dois pilares de investigação do projeto WellApp.

Ambas as investigadoras trazem para o projeto um histórico de pesquisa em aplicações e métodos digitais, ao longo das suas carreiras. Ainda assim, como explicam, é a primeira vez que coordenam juntas um projeto de investigação, naquela que é uma oportunidade de explorar e desafiar experiências.

Como acrescenta Ana Marta Flores, este é também um projeto que “pela sua abordagem, área de estudo e metodologia utilizadas, vai também ao encontro de áreas temáticas já exploradas no iNOVA Media Lab, grupo de que fazemos parte, e ao encontro do posicionamento do ICNOVA”.

WellApp: Um projeto, dois estudos diferenciados

Com início em março de 2023, o projeto WellApp terá a duração de um ano. Ainda assim, as investigadoras esperam que este seja apenas um ponto de partida para outros projetos e atividades que possam explorar o tema do bem-estar no contexto das aplicações digitais.

As duas vertentes (Instagram e lojas de aplicações) dividem o projeto em dois estudos distintos: #instawellness: mediated communication of wellness representation on Instagram e Framing of wellness: responses from digital stores. Cada um destes dará origem a uma publicação científica.

Em ambos os estudos, o objetivo é combinar “o recurso a metodologias digitais, permitindo contextualizar os dados de acordo com as especificidades do meio – Instagram e lojas de aplicações digitais – e à análise temática, permitindo identificar padrões e tendências, identificando quais os domínios do bem-estar e como são representados”, explica Rita Sepúlveda.

O final do projeto será marcado por uma conferência de encerramento, palco para apresentar os resultados do WellApp, mas também para promover a partilha de conhecimento de outros investigadores sobre a temática do bem-estar.

Em paralelo, serão criados recursos gratuitos, em formato tutorial (“como fazer”), para educadores, assim como pequenos vídeos online para o público em geral sobre temas relacionados com o bem-estar e as plataformas digitais. “Mitos e verdades sobre apps de bem-estar”, “Como usar apps em segurança” ou “Recomendações de práticas” são alguns dos tópicos para vídeos já apontados pelas investigadoras.

#instawellness: Porquê estudar o bem-estar no Instagram?

O Instagram é o foco de um dos estudos a ser desenvolvido no projeto. Para as coordenadoras do WellApp, há diversos motivos que suscitam o interesse nesta aplicação como meio onde representações associadas ao bem-estar são construídas:

  1. A popularidade da plataforma (mensalmente, mil milhões de utilizadores ativos interagem socialmente no Instagram);
  2. A possibilidade de uma partilha de informação mais rápida e com maior alcance (a amigos, familiares ou conhecidos) do que a interação presencial;
  3. A diversidade de formatos para dar visibilidade ao bem-estar: imagens ou vídeos, mas também hashtags específicos;
  4. A natureza visual móvel e a cultura única do Instagram como camada de informação adicional para a comunicação do bem-estar;
  5. A influência que cada utilizador do Instagram pode ter em termos da imagem que querem apresentar aos seus seguidores (curadoria de conteúdo).

Lojas de apps digitais: que aplicações existem? E para quem?

Quanto à outra vertente de estudo – as lojas de aplicações digitais –, o que está em causa?

“As lojas são gatekeepers no que diz respeito à distribuição de aplicações móveis, pelo que é importante perceber o que é que estas nos indicam como serviços quando pesquisamos por ‘bem-estar’”, aponta Rita Sepúlveda. O projeto permitirá, por isso, perceber que aplicações são estas que as lojas apresentam e classificar a oferta em função das várias dimensões do bem-estar.

Tal como realça a investigadora, “a análise exploratória indicou-nos que vamos encontrar aplicações numa ótica de bem-estar físico – apps de fitness – e de bem-estar mental – apps de meditação –, mas que mais irá surgir?”. Estreitando o foco, serão depois analisadas detalhadamente as aplicações com maior número de utilizadores.

O ecossistema WellApp: investigadores, estudantes, utilizadores, cuidadores e empresas

As investigadoras convidam estudantes, investigadores e demais interessados a juntarem-se ao WellApp e a pensar sobre o tema do bem-estar e aplicações móveis.

O projeto está aberto a estudantes que queiram colaborar como parte da equipa, tendo interesse nos tópicos abordados e/ou na produção de peças de comunicação (vídeos, infográficos, folhetos, …) em formatos inovadores.

São também bem-vindos contributos de investigadores que desejem aprofundar áreas específicas nas temáticas do projeto ou combinar as suas abordagens de investigação com as que são adotadas no WellApp. “Não limitamos esses contributos à área da comunicação. Se investigadores, por exemplo, das áreas da psicologia ou cuidados de saúde se quiserem unir, será uma grande mais-valia na ótica da interdisciplinaridade”, referem Rita Sepúlveda e Ana Marta Flores.

As responsáveis do projeto têm também interesse em ouvir a experiência de cuidadores de saúde, de utilizadores e de ex-utilizadores de aplicações móveis relacionadas com o bem-estar, assim como as próprias empresas ou pessoas individuais que tenham desenvolvido este tipo de aplicações.


Mais informações sobre o projeto podem ser encontradas no website iNOVA Media Lab ou através do contacto direto com as investigadoras:

Rita Sepúlveda | rsepulveda@fcsh.unl.pt
Ana Marta M. Flores | amflores@fcsh.unl.pt

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Palestra pelo Prof. YUK HUI 10 de maio, 18H, NOVA FCSH, Aud B1 Entrada Livre Seminário de Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias Doutoramento em Ciências